Ao longo da história da arquitetura, o estilo clássico passou por diversas releituras que refletiram as transformações políticas, religiosas e sociais de suas épocas. Depois da rigidez geométrica da Antiguidade e da harmonia renascentista, surge um novo momento, onde a emoção, o ornamento e o movimento tomam o protagonismo: é a era dos desdobramentos do estilo clássico, com destaque para o Barroco, o Rococó e o período da Regência.
Fontana di TreviFoto: Livio Andronico
O estilo barroco representou uma ruptura expressiva com o equilíbrio racional do classicismo greco-romano. Surgido no contexto da Reforma e da Contra-Reforma, o Barroco tornou-se um importante instrumento visual para a Igreja Católica, que desejava provocar uma experiência espiritual marcante por meio da arquitetura e da arte.
Basílica de São Pedro
Nas construções barrocas:
A simetria e o rigor das proporções cederam espaço para a curva, a expressividade e a dramaticidade;
O uso intenso do estuque e do gesso possibilitou a criação de ornamentos detalhados e volumosos;
As cúpulas e fachadas ganharam movimento com formas orgânicas e exuberantes;
A luz e sombra passaram a ser manipuladas para criar efeitos teatrais e sensações de transcendência espiritual;
Elementos dourados, acobreados e afrescos de teto reforçavam o impacto sensorial e emocional dos ambientes.
Na Itália, a Igreja de Gesù, em Roma, é considerada um marco do estilo barroco religioso. No Brasil, o barroco ganha forma nas obras do Aleijadinho, principalmente nas cidades históricas de Mariana e Ouro Preto, símbolos da estética assimétrica e orgânica desse período.
Igreja de Gesú
“Doze profetas” no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, foi construído por Aleijadinho
Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, obra do arquiteto e escultor Aleijadinho
Se o barroco é o ápice da dramaticidade e da exuberância, o rococó representa a suavização desses elementos. Surge na França durante o reinado de Luiz XV e se fortalece com Luiz XVI, como uma busca por maior harmonia e refinamento visual nos interiores palacianos.
Petit Trianon
Características marcantes do Rococó:
Valorização de formas orgânicas, leves e curvas constantes, inspiradas na natureza;
Paleta de tons claros e pastéis, com predominância do branco, dourado suave, verde-claro e azul-pálido;
Integração entre arquitetura, mobiliário e decoração, com marchetaria, tecidos estampados, papéis de parede e espelhos ornamentados;
Iluminação suave e difusa, com o uso de espelhos para amplificar a claridade natural dos ambientes.
Um exemplo emblemático é o Petit Trianon, pequeno palácio anexo ao Château de Versailles, onde se percebe a integração entre arquitetura, interiores e mobiliário dentro da estética rococó.
Entre os reinados de Luiz XV e Luiz XVI, surge o período conhecido como Regência, sob o comando de Felipe de Orléans. Essa fase representa uma transição visual entre o barroco e o rococó, mas com um foco especial: o mobiliário.
Durante a Regência:
A marcenaria ganha destaque, com forte presença da marchetaria e das curvas orgânicas;
Surge o famoso “pé em S”, referência clássica em móveis de inspiração francesa;
Os móveis deixam de ser apenas funcionais e assumem um papel ornamental, compondo a linguagem estética dos espaços.
Essa sofisticação artesanal impulsionada por Felipe de Orléans seria um prelúdio para o refinamento decorativo que viria com o auge do rococó e mais tarde com o neoclassicismo.
A transição do barroco ao rococó e à Regência marca um período de experimentação sensorial, em que o espaço clássico é reinterpretado sob diferentes aspectos — da teatralidade carregada do barroco à fluidez delicada do rococó. É também o momento em que a superfície ganha protagonismo, e a decoração passa a dialogar diretamente com a arquitetura, antecipando os debates modernos sobre integração entre função, estética e sensibilidade.
No próximo capítulo, avançamos rumo à era do Vitoriano e do Art Déco, acompanhando a influência do Reino Unido e dos Estados Unidos na redefinição do clássico sob a ótica da industrialização e do novo luxo.
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