Como contraponto ao tropical tradicional, o industrial nasce da cidade e da história recente: fábricas, galpões, aço, tijolo e vidro. Mais do que um “visual de loft”, é uma linguagem que revela estrutura, simplifica o espaço e mistura matéria bruta com edição precisa — do improviso artístico dos anos 1960 à sofisticação de designers contemporâneos.
Hayloft / loft buro. Foto: © Andrey Avdeenko
O industrial reflete dois momentos-chave e um fenômeno urbano:
Revolução Industrial (séculos XVIII–XIX): a inovação em materiais e técnicas — em especial a produção em massa do aço (processo de Bessemer, 1850s) — possibilitou novos tipos de estrutura e edifícios mais altos, com quadros metálicos e vãos maiores. Encyclopedia Britannica+2Encyclopedia Britannica+2
Conversor Bessemer, tecnologia que viabilizou o aço em massa no século XIX.Library of Congress — Domínio Público.
Era Vitoriana (séc. XIX): ao mesmo tempo, o interior vitoriano adicionou ornamento, padrões e exuberância cromática — um interesse por experiências estéticas e materiais que mais tarde dialogaria com o industrial “editado”. Architectural Digest+1
Exemplo de sala vitoriana com abundância decorativa e mix de materiais.CC BY-SA 3.0
O loft nova-iorquino (anos 1960): artistas ocuparam antigas zonas industriais de Manhattan (SoHo, Bowery) em busca de espaços amplos e alugueis acessíveis, impulsionando a cultura dos estúdios/live-work e, depois, a legalização via Loft Law (1982). Essa apropriação popularizou a estética do galpão no ambiente residencial. Apollo Magazine+2Artsy+2
Interior de edifício industrial tipo loft — estruturas aparentes e vão livre.HABS/Library of Congress — Domínio Público (obra do governo dos EUA).
A imagem de indústria também foi moldada por referências culturais como a Factory de Andy Warhol, em Nova York — o primeiro endereço, o célebre “Silver Factory” (1963), tornou-se ícone do espírito cru, improvisado e coletivo dos ateliês urbanos. Wikipedia+1
Já no design, a linguagem industrial se expandiu e ganhou rigor técnico: menos “obra crua” ao acaso e mais curadoria de materiais (concreto, aço, tijolo, madeira, vidro) em composições claras e duráveis.
The Factory | Andy Warhol
Figura central nessa transição é o britânico Tom Dixon. Sua trajetória começa com música e solda nos anos 1980, criando mobiliário a partir de sucata até tornar-se um dos designers mais influentes do mercado. Wikipedia+1
No produto, Dixon revalorizou o latão (fosco, polido, texturizado) e elevou o repertório de luminárias industriais muito além do bulbo exposto. Peças como as séries Etch (estrutura geodésica em chapas metálicas “gravadas”) e Curve (esferas microperfuradas) exemplificam a união entre técnica e efeito cênico de luz e sombra. Steelcase+2Design Within Reach+2
Nos interiores, essa mistura aparece em projetos como o ALTO (Hong Kong, 2016), primeira incursão do estúdio de Dixon na Ásia, e The Manzoni (Milão, 2019), restaurante-showroom que sintetiza o industrial sofisticado: planos escuros, materiais frios e pontuais brilhos metálicos. Azure Magazine+2dexigner.com+2
The Coal Office / Tom Dixon
Tom Dixon
Alto Bar & Grill / Tom Dixon
The Manzoni / Tom Dixon
Rigidez construtiva legível: planos de aço, tijolo e madeira expostos, modulando ritmo e textura. (Herança dos sistemas metálicos e da padronização industrial.) Encyclopedia Britannica
Estrutura de aço aparente com shedsDev Prajapati — Unsplash
Tijolo à vista e piso cru como base material.Brooke Cagle
Vão livre com cobertura metálica.Adrien Olichon — Unsplash
Planta livre: menos divisórias, mais integração entre estar, cozinha e trabalho — lógica herdada dos lofts/estúdios. Apollo Magazine
Aakash Dhage — Unsplash
Minerais e metais (concreto, pedra fosca, aço, latão) equilibrados por madeira e têxteis naturais.
Misturas “frias” bem editadas: não é preciso reunir tudo no mesmo ambiente; a seleção é que cria unidade visual.
Concreto aparente aquecido por madeira – Pexels (autor: não indicado na página)
Trilhos e pendentes como base técnica e flexível.
Peças icônicas (ex.: Etch, Curve, Melt, Beat) introduzem geometria e brilho — sofisticação sem perder o DNA industrial. Tom Dixon
Etch / Tom Dixon
Amplitude: pé-direito valorizado, mezaninos, escadas francas, comunicação entre níveis.
Ambientes despojados pela redução de molduras e portas — ideal para quem busca layout fluido.
Mezanino conectando níveis com levezaZoshua Colah — Unsplash
Escada franca como elemento escultóricoJoshua Brown — Pexels
Materiais à mostra (tijolo, concreto aparente, serralheria) e instalações aparentes organizadas (eletrocalhas, dutos).
Iluminação técnica em trilhos + pendentes pontuais.
Paleta sóbria (cinzas, pretos, ferrugem) com madeira para aquecer.
Lisa Anna — Pexels
Base mineral com camadas de conforto (linho, algodão, couro natural).
Marcenaria sob medida e prateleiros metálicos finos para organização.
Edição de materiais: escolher 2–3 protagonistas (ex.: concreto + latão + madeira clara).
Integração total e peças multifunção (ilha/bancada, mesa-coringa).
Divisórias de vidro com perfis delgados para manter luz e profundidade.
Paleta clara nas superfícies grandes; acento metálico nos detalhes.
Max Vakhtbovycn — Pexels
Tanto o tropical quanto o industrial hoje são universos de produtos e artifícios que ultrapassam períodos históricos. Podemos mesclar conforto climático e biofilia do tropical com a clareza estrutural e a materialidade do industrial — não como pastiche de época, mas como intenção de projeto.
Seja cru e improvisado, seja lapidado e minimal, o industrial continua atual porque organiza o espaço com sinceridade construtiva e edição de matéria. É cidade em forma de casa: estrutura que se vê, luz que desenha e materiais que contam história — das fábricas aos lofts de hoje.
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