Na maré baixa, um pedaço da história emerge das águas na praia de Caieiras, em Guaratuba. Trata-se dos destroços do navio Vapor São Paulo, encalhado desde 1868, uma relíquia que testemunhou momentos marcantes da história brasileira, especialmente durante a Guerra do Paraguai.
Vapor São PauloImagem: Prefeitura Municipal de Guaratuba
Em 26 de novembro de 1868, por volta das 15h, um forte e interminável apito ecoou por Guaratuba em meio a um denso nevoeiro. Os moradores correram para as pedras da ponta da praia e viram o Vapor São Paulo quase no seco, adernado em direção à praia, enquanto fortes ondas dificultavam o desembarque dos passageiros.
O navio, que pertencia ao comandante Jacinto Ribeiro do Amaral, transportava cerca de 600 pessoas, incluindo combatentes, médicos e atendentes que voltavam da Guerra do Paraguai. Os moradores da vila acolheram a maioria dos sobreviventes, enquanto outros permaneceram abrigados nas grutas da região até o dia seguinte. Dez médicos permaneceram em Guaratuba para tratar os feridos, e apenas um óbito foi registrado, de um soldado que chegou em estado crítico.
O encalhe teria ocorrido devido ao forte nevoeiro e ao vento sul intenso, que forçaram o comandante a buscar abrigo na baía. A embarcação, no entanto, encalhou em uma área rasa, selando seu destino nas águas de Guaratuba.
Foto da embarcação Vapor São Paulo na maré baixa de Guaratuba — Foto: RPC
A história do Vapor São Paulo se entrelaça com a trajetória da renomada compositora Chiquinha Gonzaga. Nascida Francisca Edwiges Neves Gonzaga, ela foi uma pioneira na música brasileira, quebrando barreiras de gênero e sociais. Casada com o comandante Jacinto Ribeiro do Amaral, Chiquinha teria embarcado no Vapor São Paulo em 1866 para acompanhar seu marido na guerra.
1877 – Chiquinha Gonzaga, aos 29 anos
Embora não haja registros definitivos de sua presença no momento do naufrágio, historiadores afirmam que a compositora poderia estar entre os passageiros, baseando-se no fato de que Jacinto costumava viajar sempre acompanhado da esposa e do filho. Contudo, não há relatos diretos confirmando sua presença na embarcação no dia do encalhe.
Chiquinha Gonzaga
A história de Chiquinha Gonzaga, revolucionária em sua época, ganhou notoriedade com a minissérie exibida pela TV Globo, reacendendo o interesse pelo naufrágio do Vapor São Paulo e trazendo à tona este fascinante episódio da história brasileira.
Os destroços do Vapor São Paulo representam mais do que um naufrágio: são uma ligação direta com o passado do Brasil. A cada maré baixa, especialmente nos meses de julho e agosto, partes da embarcação cobertas por mariscos tornam-se visíveis na Praia de Caieiras, proporcionando uma conexão única com a história marítima do país.
Foto da embarcação Vapor São Paulo na maré baixa de Guaratuba
Explorar a praia de Caieiras e conhecer essa história de perto é uma oportunidade única de reviver um capítulo marcante da história nacional. Valorizar e preservar esses vestígios é garantir que futuras gerações também possam se conectar com esse patrimônio.
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